16/02/2016

Para quê complicar?



Nós complicamos demasiado. Eu complico demasiado. Planos, esquemas, horários... Amanhã tenho que acordar às tantas, fazer isto, isto e aquilo, por esta ordem específica. Tenho que praticar yoga durante x minutos no mínimo, meditar y minutos, chego ao trabalho e tenho que organizar o dia, ver emails, ver calendário, seguir ordens pré-estabelecidas, senão a coisa já corre mal. Tenho que seguir um programa de treinos e ir ao ginásio fazer aquelas aulas específicas, senão sou uma preguiçosa e nunca na vida vou conseguir emagrecer os 3 kilos que me faltam. Tenho que escrever um artigo até esta data, imposta por mim, e como deadlines auto-impostas raramente funcionam, não consigo acabar a tempo e sinto-me culpada por ter falhado uma deadline que era, à partida, irrealista. Tenho que fazer estas aulas todas de yoga até a esta data, porque é um desafio para mim, e o que seria da vida sem desafios... Tenho que ser a melhor aluna do curso de psicologia (por acaso, por enquanto, até sou), porque, afinal, sendo já doutorada, tenho obrigação de ser melhor que os outros. Tenho que conseguir esticar as 24 horas do dia para conseguir enfiar lá dentro tudo aquilo que quero fazer. 

Estou a deixar de ver as coisas assim. Eu, tão minimalista numas coisas, parece que noutras, quanto mais complexo, melhor. Mas isso é uma ilusão. O que ganho com isso é stress. Deadlines auto-impostas, programas de yoga e de ginásio para os próximos 30 dias, dias planeados ao minuto. Estou farta. Não estou a dizer que o planeamento não é necessário. Para mim, é. Mas um dia de cada vez. Preocupar-me com um dia de cada vez. Não interessa o que é que vou comer amanhã nem quantos minutos tenho que meditar ao fim de semana. O que interessa é o aqui e o agora.

Levanto-me às 6 da manhã (nos últimos dias tem sido às 5h30). Não quero ter planos rígidos. Sei que quero fazer yoga e meditar. Vou para o tapete e começo. Não preciso ligar o computador nem pôr o timer no telemóvel. É deixar a coisa fluir. No trabalho o mesmo. Sei o que tenho para fazer. O que interessa é garantir que cada dia é produtivo. Não preciso de checklists. Admito ter uma lista de coisas que gosto de fazer todos os dias, todas as semanas e todos os meses, mas é mais para não me esquecer do que para me cobrar.

Nestas alturas volto sempre aos escritos do Leo Babauta. Sempre. E aos meus próprios escritos, como este. Parece que há alturas em que nos perdemos, mas o importante é reconhecer isso e voltar ao caminho certo. Eu quero uma vida simples. Até quero falar mais devagar (já dei por mim a falar demasiado depressa). Quero viver a vida um dia de cada vez e não fazer grandes planos para o futuro. Claro que é preciso pensar no futuro, mas quero seguir pela vida com uma bússola, não com um mapa. 

Um dos problemas é que nós, europeus, somos tão, mas tão influenciados pela cultura norte-americana, por aquelas personalidades tipo A, go-getters, que nos esquecemos que a vida aqui não é assim (felizmente). Até o Miracle Morning, que eu comecei a fazer, é pensado para a apressada sociedade norte-americana e não para a nossa. É só fazer, fazer, fazer... em vez de, simplesmente, estar. Sinto-me grata por perceber que não é assim que quero viver a minha vida. A obrigatoriedade de acordar a uma certa hora, de fazer estas coisas todas, só porque alguém escreveu num livro a dizer que é assim e até parece que resulta. Mas ler de manhã? Não consigo ler só 5 minutos... mas quem é que lê apenas durante 5 minutos ou menos?? Escrever no diário de manhã? Eu acordo com a cabeça vazia, não tenho nada a escrever de manhã... De noite sim, tenho todo um dia atrás de mim sobre o qual refletir.

Por isso, chega. Chega de stresses, de fazer grandes planos, de grandes organizações... Eu gosto de planear, sim, mas quero fazê-lo dia a dia - um dia de cada vez. Quando acordar, vou pensar: 

O que é que vou fazer hoje para ter um dia produtivo e maravilhoso? O que é que vou fazer hoje para continuar no caminho indicado pela minha bússola? 

Posso desviar-me mais para um lado ou para o outro, desde que continue a seguir a bússola. Sei o que quero fazer, sei o que tenho que fazer, sei o que devo fazer. É deixar tudo isso fluir naturalmente. Até arranjei uma agenda mais pequena... Mas isso ficará para um próximo post...

21 comentários:

  1. Não podia estar mais de acordo :) a Rita é a minha "guru" nestas coisas mas sempre fiquei um bocado admirada com tanto foco e determinação apesar de saber que isso para mim nunca ía resultar. Quando li este post lembrei-me logo de uma frase que escreveu noutro post qualquer sobre uma família a comer um pacote de bolachas nas calmas à saída do supermercado. :)
    beijinhos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sim!! Foi este post: http://busywomanstripycat.blogspot.pt/2013/03/observar-e-imaginar.html
      Já voltei a ver essa família umas quantas vezes aqui por Faro!

      Eliminar
    2. :) às vezes nem é preciso tempo, é mesmo só fazer coisas espontâneamente :) boa semana!

      Eliminar
  2. Parabéns, Rita, por conseguires ver dentro de ti como és e como gostas realmente de estar na vida. Não é algo fácil de conseguir isso nos dias que correm, onde somos permanentemente "sacoleados" de um lado para o outros com o vemos, ouvimos e com o que nos tentam "impingir".
    Desejos de um dia produtivo :)
    Mafalda - www.itsnotsosimple.com

    ResponderEliminar
  3. Concordo tanto... E admito que alguns dos seus posts já me tinham feito sentir assim também "Mas porque é que não consigo disciplinar-me planear tanto como ela" Perdi horas a perceber os GTDs, a instalar, aprender e desinstalar novamente diversas aplicações para melhorar a gestão de tempo... enfim, uma perda de tempo. Agora também tenho como máxima usufruir e deixar fluir. Volta e meia faço um check up para voltar a alinhar-me com os meus objectivos, mas não muito demorado, que preciso de tempo para viver.

    ResponderEliminar
  4. Já conheço o teu blogue faz um tempo, mas não sei se já comentei nele. Bem, estes dias eu estava pensando em quantas tralhas a gente acumula e não só tralhas materiais, mas mentais também. São objetos que não usamos e só fazem peso na mudança, são atitudes ineficientes e estressantes...estou jogando tudo fora, reciclando, doando, transmutando. Nem sempre se tem sucesso de primeira, mas não estou batendo corrida com ninguém. O negócio é viver e me sentir viva. Parabéns pelo blogue!

    ResponderEliminar
  5. Obrigado Rita, pelas reflexões que partilhas connosco. Este é um belíssimo post que vou guardar e te (nos) coloca na fronteira entre «fazer» e «ser».

    Tanto «fazer», tanta meta talvez se consiga apenas à custa de «ser».

    Thich Nhat Hanh de que tanto gostas (e eu também) instituiu na sua comunidade um «lazy day» por semana. Mas um dia um membro da comunidade achou que a designação não era lá muito apropriada e pediu que o dia se chamasse «Personal Practice Day».

    Mas Thay disse-lhe: «No, I´m not going to rename it Personal Practise Day. I´m going to keep it as "Lazy Day" (Brother Phap Hai, nothing to it, 27.

    Parece-me que a ideia não é escolher a «preguiça» por ser melhor que o «fazer».
    Há preguiça que nos rouba ao «ser», e há «fazer» que emerge do ser.

    A ideia talvez seja não nos «dividirmos» entre o agente do «fazer» e a presença do «ser».

    Um homem é como dois pássaros. Enquanto um come e voa atarefado por todo o lado, o outro apenas observa. O pássaro que voa é mais ou menos conhecido; o pássaro que observa é incognoscível, mas reconhece-se na presença do ser.
    Namasté!
    (MR)

    ResponderEliminar
  6. Folgo em saber que afinal a Rita é Humana!
    É que eu sinto-me sempre uma grande baldas ao ler os seus desafios e objetivos...
    Estou a brincar, este blog já me ajudou em muitas coisas!
    Também não acho bem termos sentimentos de culpa por metas que estabelecemos a nós próprios e não cumprimos, eu também os tenho claro, mas já basta o ritmo que os outros nos impõem...
    Boa semana.
    Sara

    ResponderEliminar
  7. Olá Rita!
    Antes de mais deixa-me dizer que adoro os teus posts, porque me revejo imenso neles! É engraçado, que as tuas problemáticas também são as minhas…mas eu estou num nível muito mais abaixo. Não consigo ter a rigidez, a disciplina e o empenho que tu consegues impor a ti própria…
    Mas agora relativamente a este post: por acaso ontem tinha lido um posto teu acerca do que desejavas para 2016. Mas o mesmo tinha uma lista tão infindável de coisas que eu pensei...ninguém aguenta tamanha carga...roupa passada a ferro antes de iniciar a semana, plano alimentar semanal, práticas diárias de yoga e meditação, ginásio, investigação (eu tb sou investigadora), curso de psicologia (ser a melhor aluna), ler muitos livros, voltar à costura, ter tempo para fazer atividades interessantes ou culturais com filhos, manter posts regulares no blog, e mais e mais...até fiquei cansada de ler! Quanto mais se tivesse de aplicar tamanha carga à minha simples vida!
    O que te queria dizer é que, em primeiro lugar, pareces-me uma pessoa fantástica a todos os níveis. És empenhada, determinada, organizada, disciplinada (bastante até...mais do que já és, só se fosses um robot), pelos vistos és boa aluna, tens dois filhotes...enfim tens tudo para seres bem sucedida (interna e externamente). Em segundo lugar, queria dizer-te que só podes ser uma perfecionista nata (e o teu campo de aplicação do perfecionismo é precisamente, a gestão do tempo). Queres fazer muitas coisas, muito bem feitas e todas com o mesmo grau de empenho (ou pelo menos, todas com um empenho suficiente que parecem primeiras prioridades). Ora é precisamente aqui que eu acho que reside o teu “calcanhar de Aquiles”...
    A exigência excessiva em todas as áreas da vida. Se tu conseguisses impor tudo isto a ti própria sem a cobrança, tudo bem, mas parece-me que te cobras bastante sempre que foges ao Plano :-)
    Se calhar, de vez em quando, podias deixar as coisas fluírem sem grandes planos...assim ao sabor do vento...Porque como já deves ter percebido, com muitos ou poucos planos, as coisas acabam sempre por acontecer...certo?
    Por exemplo, os “papers “ (eu tb os faço), estabeleces datas irrealistas, depois não as cumpres, seguidamente, ficas um bocado frustrada contigo mesma e depois passado uns dias acabas por acabar o artigo e entrega-lo ainda em boa altura...Do que é que valeu ficares frustrada?! Não acabaste por entregar o artigo? Fazer 4 ou 5 artigos por ano é assim tão melhor que 3 ou 4? Sinceramente? :-)
    Isto foi apenas um exemplo…
    Um beijinho e podes continuas a fazer apenas metade do que fazes que, a meu ver, mesmo assim, já fazes mais e melhor que 98% das pessoas que conheço ;-)

    ResponderEliminar
  8. Adoro o teu blog, Rita! Não só pelas dicas e conhecimentos que você compartilha, mas porque é autêntico. Você muda de ideia, redefine rotas, acerta, erra... Eu gosto disso! Obrigada por compartilhar tudo isso conosco, seus leitores!

    ResponderEliminar
  9. Sabes, Rita, já me tinha questionado : estás sempre a tentar simplificar tudo e depois tinhas planos tão rígidos e esquemas tão apertados que só te complicam a cabeça... não em tom de crítica, mas quando escrevias sobre o que tinhas feito mal e o que te tinha desiludido eu chegava a pensar que já tinhas dado a resposta a ti própria, se calhar não a querias era ver precisamente porque estamos numa sociedade que nos diz que o sucesso é sermos o top em tudo o que fazemos e fazermos poucas coisas é sinal de mediocridade (então no que diz respeito às mulheres que concialiam trabalho com maternidade estas exigências são assustadoras). Não te preocupes em fazer muito, aceita-te como és, analisa o que te traz verdadeira felicidade ( não contam as coisas em que apenas nos faz feliz o facto de pudermos dizer que fizemos) e tenta ser a melhor versão de ti própria e não uma versão excelente de alguém que não és.

    ResponderEliminar
  10. Rita tenho chegado às mesmas conclusões. E mesmo como cristão também vem reforçar esta ideia. Viver o presente o dia a dia. Não significa não planear mas simplesmente não viver obcecado com isso. Beijinhos

    ResponderEliminar
  11. Ontem li um bocado do The Effortless Life do Leo Babauta a propósito de um post teu no facebook e percebi como é difícil esse tipo de desprendimento. No entanto ontem quando cheguei a casa e fiz o jantar tentei praticar. Depois, em vez de "mandar" por a mesa disse "é preciso por a mesa". E depois tentei não mandar fazer nada e não desejar nada aceitando o que acontecesse. E foi um bom fim de dia :-)

    ResponderEliminar
  12. Boa Rita! Não podia estar mais de acordo c este post. Hoje em dia vivemos pouco apesar da esperança média de vida ter aumentado! A minha mãe já me disse tantas vezes isso! Perdemo-nos c mtas coisas k no fundo n têm grande importância...as coisas +simples são na verdade as k nos fazem mais feliz! :)

    ResponderEliminar
  13. Long-time reader of your blog here! This post is what I have thought about for years. In the UK, we too, are heavily influenced by American culture - and because we speak the same language we think we are the same as Americans - but we're NOT. Europeans are very different. Americans are OBSESSED with productivity and time management. They live to work: whereas we tend to work to live. They are completely attached to aims and goals. They are relentlessly driven by the need to succeed. Doing nothing doesn't feature in their lives. I read your blog and think you are so hard on yourself! You are extremely organised, busy and productive all the time. But you are not a robot: you are human and sometimes it's good to take life less seriously; to live less intensely; to do nothing or very little; have no plans; no goals; to simply be. I love to tell Americans and Canadians that I have no goals: I just live my life -- they nearly faint!

    ResponderEliminar
  14. I wanted to say also that your idea of less "forcing" and more of "going with the flow" is a great one. Good luck with it all!

    ResponderEliminar
  15. Tem um cantor brasileiro chamado Zeca Pagodinho que canta uma música com o refrão "Deixa a vida me levar". Acredito que quando repousamos em Deus nossas expectativas, tudo fica mais fácil e leve e deixamos de nos preocupar com bobagens para simplesmente deixar a vida nos levar.
    Blog super atualizado com as novidades da cerimônia do casamento e da viagem da lua de mel! Passa lá quando puder.
    Bj e fk c Deus.
    Nana
    http://procurandoamigosvirtuais.blogspot.com.br

    ResponderEliminar
  16. Concordo plenamente. Tenho lido o seu blogue há imenso tempo e acrescenta sempre valor à minha vida diária. Obrigada pela partilha!

    http://deacordocomrita.blogspot.pt

    ResponderEliminar
  17. Fiquei muito contente em ler este post.
    Porque eu venho ler este blog, quando quero ler artigos interessantes e que me ensinem algo. E nisso este blog é muito bom.
    Por outro lado, este blog também transmite uma enorme auto-disciplina e rigor. E por vezes elevar tanto as nossas obrigações e os nossos objectivos, pode ser muito penoso para nós. A nossa vontade de atingir a perfeição, pode ser também a nossa prisão.
    E é bom sacudirmos as nossas próprias obrigações que nos impusemos. Porque isso da-nos liberdade e prazer de viver sem imposições. Sermos felizes no simples e no que faz sentido naquele momento e não o que estava escrito no plano do dia ou da nossa vida...
    Não escrevo tão bem como a Rita, mas acho que consegui passar a minha mensagem:)
    Beijinhos e tudo de bom!!

    ResponderEliminar
  18. Fico feliz por ver a Rita chegar a esta conclusão. Já segui com atenção este blog e já deixei de o fazer. O motivo foi muito simples: a Rita começou a complicar a própria tarefa de simplificar. Senti que a Rita se perdeu no seu caminho e acabei desiludida. Entretanto fui cá voltando e espreitando a ver se já tinha encontrado a paz que procurava desesperadamente e parece-me que voltou ao caminho certo.
    Entretanto acrescento uma coisinha. A Rita sempre me inspirou a destralhar. Ontem estava inspirada e destralhei imenso. Simplesmente peguei nas coisas e fiz. Não é preciso planos de 5 dias para destralhar a casa, basta a vontade. Já tentei os planos e já falhei porque com 2 filhos, um emprego e uma empresa é fácil as coisas não correrem como planeado e ficava horrivelmente frustrada comigo mesma. Agora simplesmente vivo o dia presente. Dá para fazer isto ou aquilo? ótimo. Não dá? paciência.

    ResponderEliminar

Obrigada pelo comentário!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...